sábado, 26 de setembro de 2009

SONETO DE AMOR




Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma... Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.

Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que os meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.

E em duas bocas uma língua... — unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se.

Depois... — abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus; não digas nada...
Deixa a Vida exprimir-se sem disfarce!

José Régio (1901-1969)

FANATISMO




Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

«Tudo no mundo é frágil, tudo passa...»
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»

Florbela Espanca (1894-1930)

O TEU RETRATO



Deus fez a noite com o teu olhar,
Deus fez as ondas com os teus cabelos;
Com a tua coragem fez castelos
Que pôs, como defesa, à beira-mar.

Com um sorriso teu, fez o luar
(Que é sorriso de noite, ao viandante)
E eu que andava pelo mundo, errante,
Já não ando perdido em alto-mar!

Do céu de Portugal fez a tua alma!
E ao ver-te sempre assim, tão pura e calma,
Da minha Noite, eu fiz a Claridade!

Ó meu anjo de luz e de esperança,
Será em ti afinal que descansa
O triste fim da minha mocidade!

António Nobre (1867-1900)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Amiga



Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa, a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascessemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prà minha boca!...

(Florbela Espanca)

Amar !



Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar?Esquecer?Indiferente!...
Prender ou desprender?É mal?É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó,cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

(Florbela Espanca)

domingo, 13 de setembro de 2009

Despedida




Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão. -
Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.


Autor: Cecília Meireles

Eu te quero




Quando você não me quis mais
Foi um momento que eu sofri
Só você me satisfaz
A banda não se toca assim.
Me desculpe, mas você está sendo rude comigo
Estou sofrendo de montão
Mas não mereço isso não.

Eu te quero
Sou sincero e não vou agüentar
Viver assim
Eu não nego
Eu te quero e posso me humilhar
Volte pra mim.

Pensei em um tempo atrás
Até me lembrei: foi bom demais
Brigas... só uma vez
E parar nunca mais.
Terminar com tudo assim
É fazer sumir um amor feliz.
Te peço com ambição
Não faça isso não.
Autor: Desconhecido

Acordar, Viver



Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-meàquele reino onde não existe vida e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,a fábula inconclusa,suportar a semelhança das coisas ásperasde amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento que lembra a Terra e sua púrpurademente?
E mais aquela ferida que me inflijoa cada hora, algoz do inocente que não sou?Ninguém responde, a vida é pétrea.

Autor: Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sonhos



Ter um sonho, um sonho lindo,

Noite branda de luar,

Que se sonhasse a sorrir...

Que se sonhasse a chorar...

Ter um sonho, que nos fosse

A vida, a luz, o alento,

Que a sonhar beijasse doce

A nossa boca... um lamento...Ser pra nós o guia, o norte,

Na vida o único trilho;

E depois ver vir a morte

Despedaçar esses laços!......É pior que ter um filho

Que nos morresse nos braços!
(Florbela Espanca)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SAUDADE



Tantas palavras bailam em minha mente,tanta coisa para se dizer, tanto sentimento!

Meu coração bate ansioso por uma palavra sua,

Meu corpo sonha com um toque seu,meus ouvidos atentos as suas palavras,seus olhos que penetram em minh’alma,descobrindo os meus mais íntimos segredos, desejos que se escondem em cada poro,

E em cada um deles uma poesia.

E todo esse momento está presenteem cada segundo de meu dia,

E meu pensamento corre em busca de palavras apenas para exprimir um só sentimento, que aperta o meu peito, me consome.

Apenas consigo dizer e sentir :

S A U D A D E ~
(Autor desconhecido)