quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Recomeça….
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
(Miguel Torga)
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Abraço...
É demonstração de afecto
Carinho e muito amor
É saudade e lágrima
Mas também o calor
Abraço é amar
É querer aconchego
É sentir um amigo
Com todo o seu apego
Podemos abraçar
Uma causa uma pessoa
Abraço é abraço
É cingir e cercar
É não sentir espaço
Abraçar uma causa
É o que nos faz sentir
Que quem luta acredita
E nunca deve desistir
Abraçar uma criança
Transmitir-lhe carinho
É dizer-lhe com os braços
Que nunca estará sozinho
Abraçar um amigo
Com toda a fraternidade
E como dizer estou aqui!
Para a toda a eternidade
Abraçar um amor
Com toda a compreensão
É desatar todos os nós
E fazer um laço de união
Vamos assim abraçar
Uma criança, uma causa
Um amigo e o nosso amor?
Custa tão pouco abraçar...
Acreditem não dá dor!
(Autor desconhecido)
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
(Carlos Drummond de Andrade)
domingo, 7 de novembro de 2010
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
O Livro
Páginas...
Páginas que folheio
Daquele livro ali
Aquele...
O tal que nunca escrevi!
Em cada folha que passo
Quedo-me nas imagens
Recordo cada momento
Cada alegria...
Cada fracasso...
É um livro sem letras
Porque não as escrevi
As imagens...
As imagens falam por si!
São páginas
Páginas da vida que não vivi...
Fecho o livro
Guardo-o numa das gavetas
Da velha cómoda empoeirada
Ao pé dos sonhos
Que um dia
Me povoaram o pensamento
E que agora... jazem ali...
(Autor desconhecido)
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Ternura
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.
Autor: Vinícius de Moraes
terça-feira, 30 de março de 2010
O teu riso
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.
Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.
À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera , amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.
Autor: Pablo Neruda
segunda-feira, 15 de março de 2010
Olhe para dentro de você
Se você está com olhos bem abertos, experimente fechá-los...
Agora abra-os somente para o lado de dentro.Chegou a hora de visitar por uns instantes seu mundo interior.
Passeie calmamente aí por dentro de você, detendo-se longamente às boas imagens que você tem guardadas.
Não há qualquer problema em visitar o seu arquivo, ou o seu velho baú, desde que seja para buscar inspiração no passado, alimentar e dar força ao presente.
Atenha-se ao que de mais precioso você viveu.
Alguém especial vem se formando e se moldando pelo tempo e pela história desse tempo.
Você é feliz pelo sonho de criança que você vem cultivando dia após dia, ano após ano.
Se quiser abrir os olhos, abra-os bem e procure revelar a criança que ainda brilha em você.Agradeça. A vida continua. Hoje vai ser mais um dia na construção da sua história.
As cenas do dia que começa também vão ficar marcadas, e você poderá visitá-las.
Hoje você escreve mais uma boa página nessa história.
Está no ar a criança que você sempre preservará dentro de si. Coração aberto, sorriso pronto, abraço fácil, beijo sincero.
Na rua, no trabalho, em casa, todo mundo vai notar que está diante de alguém muito especial.
Autor: Carlos Drumonnd de Andrade
domingo, 14 de março de 2010
Posso escrever os versos mais tristes esta noite ...
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
Poema de Pablo Neruda
quarta-feira, 3 de março de 2010
ESPERANÇA
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Autor: Mário Quintana
Dedico este poema "Esperança", a todos aqueles que estão a sofrer, vítimas das catástrofes que se estão a abater um pouco por todo o mundo. É uma tristeza muito grande ... A Natureza parece que está revoltada...
Deixo um voto de pesar por todos os que perderam a vida nestes tristes acontecimentos.
emma
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Autor: Florbela Espanca
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Pequenina
És pequenina e ris ... A boca breve
É um pequeno idílio cor-de-rosa ...
Haste de lírio frágil e mimosa!
Cofre de beijos feito sonho e neve!
Doce quimera que a nossa alma deve
Ao Céu que assim te faz tão graciosa!
Que nesta vida amarga e tormentosa
Te fez nascer como um perfume leve!
O ver o teu olhar faz bem à gente ...
E cheira e sabe, a nossa boca, a flores
Quando o teu nome diz, suavemente ...
Pequenina que a Mãe de Deus sonhou,
Que ela afaste de ti aquelas dores
Que fizeram de mim isto que sou!
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
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